A Memória do Agora - As Antigas Estradas de Lisboa
Encaixadas na malha urbana de Lisboa, há algumas antigas estradas que ligavam o centro a áreas periféricas e longínquas, vias que foram sendo traçadas ao longo dos séculos de evolução e de construção da cidade, e que permitiram que os bens alimentares e o Homem, se movimentassem livremente no território. Estas estradas, abertas ao longo das áreas que eram topograficamente menos acidentadas, e, por esse motivo, fisicamente mais fáceis de percorrer a pé, começaram por ser sulcos calcados na terra, marcados pelo passo humano e pelo passo animal, aberturas definidas no espaço que permitiam a passagem, primeiro do Homem e dos animais, depois das rodas de carroças e de carruagens, atualmente de vias pavimentadas e estruturadas.
Mas estas estradas não foram apenas responsáveis pela deslocação através do território, elas foram, sobretudo, linhas de penetração espontânea, orgânica, por onde a cidade cresceu, eixos que definiram o traçado e a implantação da malha urbana e que permitiram a criação de comunidades e de um espírito identitário que, em parte, se mantém. Aqui se construíram palácios e conventos imponentes e majestosos, que careciam de espaço para a sua grandiosidade arquitetónica e paisagística. Aqui surgiram também construções de uso mais corrente, encostadas aos muros altivos e faustosos das propriedades nobres e religiosas, aí procurando um suporte estrutural e defensivo.
Um estudo da evolução urbana de Lisboa, permite identificar estes percursos e perceber a expansão através do tempo, ao longo desses eixos, que resistiu à destruição provocada pelo Terramoto de 1755, e pelo consequente plano de reconstrução de Pombal, bem como a todas as posteriores intervenções planeadas para o centro da cidade. Ao contrário de grande parte da tradição europeia, que construiu sobre a malha existente, destruindo-a, aqui, a expansão respeitou sempre as preexistências, integrando-as no projeto e mantendo as vivências e as comunidades.