Galeria

José Moura | Imagine Conceptuale | PARTIS
2016-2018
A 3ª visão. Fotografar de trás da máscara que nós temos três figuras humanas. A primeira figura que aparece na sociedade, família, no dia-a-dia. A outra figura representa o que a pessoa pensa que é e a terceira figura que não sabe o que é. Três figuras que sendo o mesmo ser, são três seres.
Este trabalho fotográfico realizado em forma de tríptico representa o 3º olho, a mesma pessoa com expressões diferentes que cada uma representa um olho. O olho que mostra quem eu sou para os outros, o olho que mostra aquilo que os outros acham quem sou e o olho que mostra quem eu sou na realidade.

Documentário PARTIS


Conceito

Uma pessoa cega ou com baixa visão procura “ver” através dos outros sentidos, como consideramos importante explorar as suas sensações representadas em imagem, procuramos a descrição dessas imagens com elementos provenientes dos sentidos e encontrados nos movimentos artísticos. Pretendemos proporcionar às pessoas cegas e com baixa visão a oportunidade de “verem” e construírem uma imagem, caminhando assim para o objectivo de democratizar a arte.

Todos nós, normovisuais, desvalorizamos as narrativas visuais que vamos produzindo, as biografias que criamos para as pessoas que vemos no nosso dia à dia. O peso que tem para nós a primeira vez que vemos/sentimos um Van Gogh, ou um Monet, ansiedade que nos provoca um Picasso ou um Dali. Tudo isto são emoções que experienciamos, e que como tal vão definindo quem somos. Temos no nosso cérebro um perfeito álbum de imagens, que revisitamos ao sabor das emoções e no olho uma poderosa máquina fotográfica que regista obsessivamente o que observamos.

Assim queremos aprofundar o processo de dar visão a quem não a tem, para que possam produzir narrativas visuais até porque, “aquilo que a fotografia reproduz ao infinito só aconteceu uma vez: ela repete mecanicamente aquilo que nunca mais poderá repetir-se existencialmente”.(Barthes) E como tal promover em cada um a capacidade de ter memórias visuais e partilhá-las.

O desenvolvimento de uma cultura estética visual em todas as suas dimensões conceptuais e quanto a nós acessível a TODOS é fundamental para quem somos. Produzir narrativas e memórias visuais é assim integrador.


Divulgação

Pode conhecer melhor o projeto através da exposição, no Fascínio da Fotografia, aqui.

Pode ler o ensaio de Luís Rocha: “Que percepção terá da fotografia uma pessoa que não vê, ou que vê muito pouco?” no Fascínio da Fotografia, aqui.

Para aceder a imagens da exposição através do Acontece em Lisboa, aqui.


Documentário

Documentário sem audiodescrição
Documentário com audiodescrição

Documentário “As sombras mudaram de lugar” que documenta o processo de trabalho durante o projecto Imagine Conceptuale. Com imagem de Luís Rocha, edição de Tânia Araújo. Duração de 43 minutos.


Livro

Título: Um Olhar Sobre o Nada . ISBN: 978-989-99831-4-4 . Formato: 17,0 x 23,0 . Ano: 2018 . Tiragem: 200 exemplares . Páginas: 186 . ESGOTADO .


Testemunhos

Beleza

Trabalhei no mundo da aviação e, para mim, a viagem começa sempre à porta do avião. A postura que tiver à porta conta muito para o conforto dos passageiros, durante a viagem. Daí a importância de usar saltos altos. Dá uma postura de segurança.
Quando ceguei, não conseguia usar saltos altos. Agora aprendi a usá-los com a minha bengala e voltei a sentir-me mulher.
© Júlia Silvestre

Histórico

“Que percepção terá da fotografia uma pessoa que não vê, ou que vê muito pouco?

​Em 2003 o fotógrafo Luís Rocha decidiu interpelar sobre o assunto a Associação Promotora de Emprego para Deficientes Visuais (APEDV), e o resultado foram dois cursos para pessoas com deficiências visuais extremas, que tiveram início na Oficina de Fotografia da Câmara Municipal de Lisboa entre Maio e Julho desse ano.

​O entusiasmo de poder “aumentar o real” até um ponto em que se torna perceptível – mesmo para uma pessoa cega ou com baixa visão em alto grau – aliou-se ao aliciante “conceptual” de produzir um objecto artístico cuja comunicação com o público se desse exactamente através do sentido que o seu autor menos domina – a visão. O resultado foi um empenho fortíssimo, uma atenção desmesurada e um quotidiano cheio de novas descobertas: podemos fotografar o que ouvimos, o que sentimos, até o que imaginamos (a partir das descrições que nos fazem do real)! Podemos produzir imagens que, ainda que não tenham nascido de uma conceptualização puramente visual, são visualmente significantes para quem as olha, e transmitem através do olhar aquilo que pode ser a sua ausência.”

​A primeira exposição surge a convite da Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira onde o MEF expõe o projecto Imagine Conceptuale em 2003.

Em Janeiro de 2004 a exposição teve lugar no Arquivo Fotográfico de Lisboa.

As imagens nesta fase já são expostas em papel fotográfico e em papel relevo que permite ser tacteado, a imagem em relevo é acompanhada por descrição áudio.

“Outros Olhares” na Cidade do Rock. Pessoas com deficiências visuais, sem-abrigo e jovens da freguesia de Marvila fizeram o registo fotográfico do festival Rock in Rio – Lisboa. Em Maio de 2004 o projecto Imagine Conceptuale esteve no Rock in Rio Lisboa.

​No ano de 2004 O BANDO levava à cena o “Ensaio sobre a cegueira”, excelente oportunidade para estes novos fotógrafos exercitarem a sua arte… Apesar de um cenário de difícil compreensão táctil, os participantes do Imagine Conceptuale assistiram e fotografaram um ensaio da peça, baseando-se sobretudo na audição, e alguns também nas cores fortes que conseguiam percepcionar. Os técnicos/fotógrafos deram pontualmente algumas descrições – sobretudo visuais – da acção, para possibilitar a conceptualização da imagem. Desta experiência resultou o trabalho fotográfico “Dez Olhares sobre a Cegueira”, no verão de 2004.

No ano de 2006 o Imagine Conceptuale integra-se no projecto global do MEF-Movimento de Expressão Fotográfica – DAS/CML. Nesse âmbito, os alunos revisitaram as suas memórias visuais (do tempo em que viam bem) para a criação de conceitos imagéticos sobre as suas imagens. Com a participação no projecto_Lisboa o Imagine Conceptuale conclui a sua intervenção.

​Entre 2008 e 2010 o MEF dinamiza outros projetos ligados à deficiência visual em que usa a fotografia enquanto ferramenta de inclusão: Paisagens do VentoPaisagens do Vento (retratos)Senti(n)doIMAGOImagem do Sentir

​Em 2011 o projecto realiza-se no Centro Helen Keller, sendo a primeira vez que o projecto é adaptado a crianças, cegas congénitas e de cegueira adquirida.  

​Regressámos em 2016 ao projeto de fotografia dentro da deficiência visual, Imagine Conceptuale – Integrar pela Arte, integrado no programa PARTIS da Fundação Calouste Gulbenkian, com a experiência adquirida nos processos de trabalho anteriores, promove o projecto em diversas entidades espalhadas pelo país.

​Para a realização dos projectos fotográficos ligados à deficiência visual sempre contámos com o apoio de diversas entidades: Associação Acesso Cultura; Câmara Municipal de Viana do Castelo; FUJIFILM;Câmara Municipal de Oeiras; Centro de Experimentação Artística da Fábrica da Pólvora/Clube Português de Artes e Ideias, Museu do Surrealismo, Centro Cultural de Belém – Museu Berardo; Íris Inclusiva; AAICA – Associação de Apoio e Informação a Cegos e Amblíopes; ARP – Associação de Retinopatia de Portugal; FRMS – Fundação Raquel e Martin Sain; APEDV – Associação Promotora de Emprego de Deficientes Visuais; Lar Branco Rodrigues e CRNSA – Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

​Os projectos ao longo dos anos foram financiados por várias entidades: Direcção-Geral das Artes/Ministério da Cultura; Fundação Calouste Gulbenkian/Programa PARTIS; Câmara Municipal de Lisboa/RAAML.

​Em 2017 o projecto IMAGINE CONCEPTUALE foi menção honrosa no prémio de inovação tecnológica Eng. Jaime Filipe, concedido pelo Instituto Nacional para a Reabilitação.


Galeria


Exposições

_de 14 de outubro a 19 de novembro de 2017, Edifício dos Antigos Paços do Concelho, Viana do Castelo.

_de 23 setembro a 12 novembro de 2018, Galeria do Piso Inferior, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.

_de 26 de outubro a 17 de novembro de 2019, Casa do Arco do Bispo, Castelo Branco.

_de 3 de dezembro de 2020 a 27 de fevereiro de 2021, Casa da Cultura de Sacavém, Loures.

_de 7 de maio até 19 de junho de 2021, Biblioteca Municipal de S. Domingos de Rana, Cascais.


Reportagem TVI

Como testemunho de um processo que nos trouxe até a este momento, partilhamos um dos caminhos, Revelar Memórias, uma reportagem TVI de Joana Dias Duarte com imagem de Paula Fernandes.

Durante as várias edições foram construídos dois sítios de acompanhamento do projecto: https://umolharsobreonada.wixsite.com/foto e https://integrarpelaarte.wordpress.com